Walter Benjamin sobre cartilhas infantis e a não-chegada do Messias

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Cartilhas de ABC há cem anos
Tradução: Tomaz Amorim Izabel

Nenhum palácio real ou casa de campo de um milionário conheceu um milésimo do amor adorável que foi dirigido às letras no decorrer da história cultural. Então, por mera alegria à beleza e para honrá-la. Mas também com intenção astuta. As letras são as colunas de um portão, em cima do qual bem poderia estar escrito o que Dante leu sobre os portões do inferno, e lá sua dura forma primordial não deveria espantar os muitos pequenos que todo ano precisam atravessar este portão. Cada uma dessas pilastras é então carregada de guirlandas e arabescos. Mas percebeu-se só muito mais tarde que não se tornava as coisas mais fáceis para a criança quando se esticava o espaçamento entre os tipos com imensas decorações, para representá-las de forma mais atrativa.
Além disso, as letras começaram logo cedo a construir uma corte de objetos ao redor de si. Os mais velhos entre nós ainda têm pendurado prontamente o chapéu no c, têm visto a marmota roer inofensivamente o m e têm visto o r como a parte mais espinhosa da rosa. Com a dedicação dinâmica a povos estrangeiros, crianças e desclassificados que ocorreu durante o Iluminismo europeu, com os raios do Humanismo, do qual o Classicismo é na verdade apenas o eclipse solar, caiu então de uma vez uma luz completamente diferente sobre os livros didáticos. Os pequenos objetos ilustrativos, que até então tinham ficado envergonhadamente jogados de lado diante da majestade da letra, ou tinham sido espremidos em caixinhas, justos como as janelinhas das fachadas burguesas do século XVIII, liberaram subitamente bordões revolucionários. Os açougueiros, aviadores, artilheiros, águias e avestruzes, os garotos, garçons, gatos, goleiros, guerrilheiros, gaviões, os veterinários, Venezuela, vigias reconheceram sua solidariedade. Eles convocavam grandes convenções, apareciam grandes destacamentos de todos os As, Bs, Cs, etc., e em seus encontros iam-se às multidões. Quando Rousseau diz que toda a soberania se origina do povo, então estes círculos se expressam alto e com convicção: “O espírito das letras se origina das coisas. Nosso ser-assim-e-não-algo-outro, nós impregnamos nessas letras. Nós não somos os seus vassalos, elas é que são apenas nossa vontade comum dita em voz alta”.

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Ideia para um mistério
Tradução: Tomaz Amorim Izabel

Representar a História como um processo em que o Humano, simultaneamente como defensor da Natureza muda, presta queixa sobre a Criação e a ausência do Messias prometido. O Tribunal, no entanto, decide ouvir testemunhas sobre o que está por vir. Aparecem: o poeta, que o sente; o artista plástico, que o vê; o músico, que o ouve; e o filósofo, que o sabe. Seus testemunhos, portanto, não convergem, embora eles todos testemunhem pela Sua vinda. O Tribunal não ousa admitir sua indecisão. Assim, não há fim para as novas queixas e, tampouco, para as novas testemunhas. Há tortura e martírio. Os bancos dos jurados estão ocupados pelos vivos que ouvem o promotor Humano e as testemunhas com a mesma desconfiança. Os lugares dos jurados vão sendo herdados por seus filhos. Finalmente, desperta neles um medo de serem expulsos dos seus bancos. Ao fim, todos os jurados fogem e ficam apenas o querelante e as testemunhas.

 

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ABC-BÜCHER VOR HUNDERT JAHREN!
Walter Benjamin

Kein Königspalast und kein Cottage eines Milliardärs hat ein Tausendstel der schmückenden Liebe erfahren, die im Laufe der Kulturgeschichte den Buchstaben zugewandt worden ist. Einmal aus Freude am Schönen und um sie zu ehren. Aber auch in listiger Absicht. Die Buchstaben sind ja die Säulen eines Tores, über dem ganz gut geschrieben stehen könnte, was Dante über den Pforten der Hölle las, und da sollte ihre rauhe Urgestalt die vielen Kleinen, die alljährlich durch dieses Tor müssen, nicht abschrecken. Jeden einzelnen dieser Pilaster behing man also mit Girlanden und Arabesken. Doch man kam erst sehr spät darauf, daß man dem Kinde die Sache nicht leichter machte, wenn man die Gerüste der Lettern mit maßlosen Zierformen überspannte, um sie anziehender zu gestalten.
Daneben begannen die Buchstaben schon früh einen Hof von Gegenständen um sich zu bilden. Die Älteren unter uns haben noch den Hut dienstfertig beim h hängen, die Maus harmlos am m knabbern sehen und das r als den dornigsten Teil der Rose kennen gelernt. Mit der bewegenden Hingabe an fremde Völker, an Kinder, an Deklassierte, die durch die europäische Aufklärung ging, mit dem Strahlen des Humanismus, von dem die Klassik eigentlich nur die Sonnenfinsternis ist, fiel dann mit einem Mal ganz anderes Licht in die Lesebücher. Die kleinen illustrierenden Gegenstände, die bis dahin verlegen um den herrschaftlichen Buchstaben herumgelungert hatten, oder gar in Kassetten, eng wie die Fensterchen in bürgerlichen Hausfassaden des 18. Jahrhunderts, gepreßt worden waren, gaben plötzlich revolutionäre Losungen aus. Die Ammen, Apotheker, Artilleristen, Adler und Affen, die Kinder, Kellner, Katzen, Kegeljungen, Köchinnen, Karpfen, die Uhrmacher, Ungarn, Ulanen erkannten ihre Solidarität. Sie beriefen große Konvente ein, Abordnungen aller A’s, B’s, C’s usw. erschienen, und es ging auf ihren Versammlungen tumultuarisch zu. Wenn Rousseau sagt, daß alle Souveränität vom Volk stammt, so bekunden diese Tafeln es laut und entschieden: »Der Geist der Buchstaben stammt aus den Sachen. Uns, unser So-und-Nichtanders-Sein, haben wir in diesen Buchstaben ausgeprägt. Nicht wir sind ihre Vasallen, sondern sie sind nur unser lautgewordener gemeinsamer Wille.«

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Idee eines Mysteriums
Walter Benjamin

Die Geschichte darzustellen als einen Prozeß, in welchem der Mensch zugleich als Sachwalter der stummen Natur Klage führt über die Schöpfung und das Ausbleiben des verheißenen Messias. Der Gerichtshof aber beschließt Zeugen, für das Zukünftige zu hören. Es erscheint der Dichter der es fühlt, der Bildner der er sieht, der Musiker der es hört und der Philosoph der es weiß. Ihre Zeugnisse stimmen daher nicht überein, wiewohl sie alle für sein Kommen zeugen. Der Gerichtshof wagt seine Unschlüssigkeit nicht einzugestehen. Daher nehmen die neuen Klagen kein Ende, ebensowenig die neuen Zeugen. Es gibt die Folter und das Martyrium. Die Geschwornenbänke sind besetzt von den Lebenden, die den Mensch-Ankläger wie die Zeugen mit gleichem Mißtrauen hören. Die Geschwornenplätze erben sich bei ihren Söhnen fort. Endlich erwacht eine Angst in ihnen, sie könnten von ihren Bänken vertrieben werden. Zuletzt flüchten alle Geschwornen, nur der Kläger und die Zeugen bleiben.

Fragmento 127 (ed. de Maehler), de Píndaro

Píndaro
Fragmento 127
                    

Εη κα ρν κα ρωτι

χαρίζεσθαι κατ καιρόν·

μ πρεσβυτέραν ριθμο

δίωκε, θυμέ, πρξιν.

 

Alfredo Rezende

Fragmento 127

 

Que amar, assim como ao amor

recompensar, seja ao seu tempo;

demais, coração, não persigas

um já envelhecido intento.