Marcenaria, Tuberculose, Meu Pushkin, de Nathalie Quintane

Menuiserie

 

Alors petit tu t’ennuies ponce perdue au clou la scie

ponce dans le niveau la bulle ponce c’est une planche

c’est une ponce porte un meuble de la poussière ponce

encore ponce poussière attention là la scie ponce sur

la brouette le chat ponce dans le copeaux ponce

machine  ponce descente de disque à ras du pin chine

machine ongle noir du pouce ponce œil au ras de la

planche ponce tuyau chaîne à la ponceuse poussière

che veux mise à carreaux se poussent espadrilles

geste du jambe la emportée au plafond par sa chaîne

coup de rabot se relève aspire: cigare, éteint cigare.

 

Marcenaria

 

Então pequeno você se entedia pedra-pomes perdida

ao prego a serra pedra dentro do nível a bolha pedra

é uma prancha é uma pedra porta um móvel da poeira

pedra ainda pedra poeira atenção aí a serra pedra sobre

o carrinho de mão o gato pedra nas raspas pedra

máquina pedra descida do disco raso do pinho quina

máquina unha negra do polegar pedra olho no raso da

prancha pedra tubo corrente para a polidora poeira

ca(belos)misa postos em quadrados avançam espadrilles

gesto da perna o levado ao teto por sua corrente

lance de plaina se levanta, aspira: charuto, apaga charuto.

 

Tuberculose

 

Voilà les enfants vous vous ennuyez voilà tousse ce

que vous allez faire on peut faire tousse faire une

course une tousse une course aux escargots, feuille

de salade tous en ligne ou descendre au ré picard en

bas de la rivière ton oncle y pêche tousser tousser ou

faire des bulles de savon palmolive une paille un peu

de liquide toux sèche, souffle, on peut sortir la bro-

derie de fil rouge le vert le fil toux bleu point de croix

tricot toux début d’un pull, il faut apprendre à monter

les mailles tousse ou m’aider à faire la tarte tousse

tarte aux mûres en conséquence aller chercher des

mûres allez pour les mûres et prenez des bottes contre

la pluie un pull toux un sac ou, réparer ton collier.

 

Tuberculose

 

Eis lá as crianças que lhe entediam eis a tosse essa

que você vai fazer se pode fazer tosse fazer uma

corrida uma tosse uma corrida de caramujos, folha

de salada tudo alinhado ou descer escorregando em-

baixo do rio seu tio aí pesca tossir tossir ou

fazer bolhas de sabão palmolive um canudo um pouco

de líquido tosse seca, respira, pode-se sair do bor-

dado de fio vermelho o verde o fio tosse azul ponto-cruz

tricô tosse começo de um pulôver, é preciso aprender a montar

as malhas tosse ou me ajudar a fazer a torta tosse

torta de amoras em consequência ir buscar as

amoras vá atrás das amoras e pegue as botas por causa

da chuva um pulôver tosse uma bolsa ou, ajustar seu colarinho.

 

Mon Pouchkine

 

Un idiot neutre n’est pas toujours un artiste

pensa-t-il, en glissant une fois de plus de son siège

(Pouchkine lui-même avait du mal à se tenir sur une chaise*)

 

Oui, faisons des propositions ! dit-il

la nuque encore rouge. Elle avait tapé contre le

samovar.

– Mais la proposition en tant que ligne

strictement délimitée, est un vers, dit un ami

en se grattant. Et son bonnet se déplaçait.

 

Décidément quel désastre ! encore un jour

sans une idée (a day = an ideia) Et quelle poésie,

mais quelle poésie, pour 1835?

Là-dessus, Pouchkine remit ses caoutchoucs

(la neige tombait)

 

*selon Kharms.

 

Meu Pushkin

 

Um idiota neutro não é sempre um artista.

pensou ele, escorregando uma vez mais de sua cadeira

(Pouchkine, ele mesmo, sentia dor de se manter sobre um divã*)

 

Sim, façamos proposições! diz ele

A nuca ainda vermelha. Ela tinha batido no

samovar.

– Mas a proposição como linha

estritamente delimitada, é um verso, diz um amigo

se coçando. E sua boina se deslocava.

 

Decididamente, que desastre! mais um dia

sem uma ideia (a day = an ideia) E qual poesia,

mas qual poesia, para 1835?

Lá acima, Pouchkine colocou suas galochas

(a neve caia)

 

*segundo Kharms.