Virá a morte e terá os teus olhos –
esta morte que nos acompanha
desde a manhã até a tarde, insone,
surda, como um remorso antigo
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra vã,
um grito calado, um silêncio.
Assim tu os vês toda manhã
quando te inclinas sobre ti mesma
no espelho. Oh querida esperança,
naquele dia também viremos a saber
que és a vida e és o nada.
Para cada um a morte tem um olhar.
Virá a morte e terá os teus olhos.
Será como abandonar um vício,
como ver no espelho
ressurgir uma face morta,
como escutar um lábio fechado.
Desceremos mudos ao turbilhão.
*
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi –
questa morte che ci accompagna
dal mattino alla sera, insonne,
sorda, come un vecchio rimorso
o un vizio assurdo. I tuoi occhi
saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio.
Così li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi
nello specchio. O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla.
Per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.
Sarà come smettere un vizio,
come vedere nello specchio
riemergere un viso morto,
come ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.
22 marzo 1950.