
“Saudades da pátria”, três poemas de Marina Tsvetáieva no exílio;
Traduções por André Nogueira (2017),
Publicação em homenagem ao Dia Internacional do Refugiado, 20 de junho 2017.
Imagem: Marina Tsvetáieva, foto no passaporte de retorno para a União Soviética em 1939.
O PAÍS
O globo inteiro apalpa
E examina, palmo a palmo!
Esse país não há no mapa, –
Não existe. – Só na alma.
Da xícara bebida até o fim –
Reluz, límpido, o fundo.
Voltar – para uma casa assim,
Que foi varrida desse mundo?
Se renascer me preocupa, –
De novo – em um novo país?
Voltar – eu mesma quis!
E saltar sobre a garupa
Desse alazão convulso!
Sairei de ossos ilesos?
Voltasse eu ao país russo,
Só farelos – com desprezo,
O padeiro me daria, e um caixão
Não me faria o carpinteiro.
Aquela – de incontável imensidão,
De magníficos outeiros,
Aquela – de reinos celestiais
E dos meus anos juvenis,
Aquela Rússia – não há mais.
– Tampouco eu, sem meu país.
fins de junho 1931
СТРАНА
С фонарём обшарьте
Весь подлунный свет!
Той страны на карте —
Нет, в пространстве — нет.
Выпита как с блюдца, —
Донышко блестит.
Можно ли вернуться
В дом, который — срыт?
Заново родися —
В новую страну!
Ну-ка, воротися
На спину коню
Сбросившему! Кости
Целы-то — хотя?
Эдакому гостю
Булочник — ломтя
Ломаного, плотник —
Гроба не продаст!
Той её — несчётных
Вёрст, небесных царств,
Той, где на монетах —
Молодость моя,
Той России — нету.
— Как и той меня.
Конец июня 1931
…………~//~
PÁTRIA
Oh, meu implacável idioma!
Como ouvisse simplesmente uma campônia,
Uma rústica canção que murmurinha:
– Rússia, pátria minha!
No horizonte, atrás da cordilheira,
Pátria minha – e estrangeira! –
Ela mostrou-se para mim:
Terra distante, lá dos últimos confins!
Distância, minha sôfrega doença,
A tal ponto é minha pátria de nascença
Que carrego, aonde for, essa distância –
Minha parte que está fora do alcance.
Distância, que se afasta e não me solta,
Distância, que me diz: “Rápido volta
Para casa!
……………..No horizonte estrela branca
Que de todos os lugares me arranca!
Do suor da caminhada só me resta
Inundar a vastidão da minha testa.
Tu, hei de perder-me nos teus braços!
Com os lábios selarei, ao pé do cadafalso:
Pátria minha – prometida! –
Onde se encontra a perdição da minha vida.
12 de maio 1932
РОДИНА
О, неподатливый язык!
Чего бы попросту — мужик,
Пойми, певал и до меня:
«Россия, родина моя!»
Но и с калужского холма
Мне открывалася она —
Даль, тридевятая земля!
Чужбина, родина моя!
Даль, прирожденная, как боль,
Настолько родина и столь —
Рок, что повсюду, через всю
Даль — всю ее с собой несу!
Даль, отдалившая мне близь,
Даль, говорящая: «Вернись
Домой!»
……………..Со всех — до горних звезд —
Меня снимающая мест!
Недаром, голубей воды,
Я далью обдавала лбы.
Ты! Сей руки своей лишусь,—
Хоть двух! Губами подпишусь
На плахе: распрь моих земля —
Гордыня, родина моя!
12 мая 1932
……………..~//~
* * *
Saudades da pátria! Com esse mal
Há muito tempo que eu luto!
Para mim é absolutamente igual
Onde estar só em absoluto.
Quais cascalhos que eu arranhe
Arrastando o carrinho de feira
Para a casa, que me é de todo estranha –
Se hospital ou se caserna, como queira.
A mim é indiferente, qual o povo
Que há de ver em cativeiro
A leonina minha crespa cabeleira,
Ou me expulsar – de novo! –
Ao deserto dessa minha solidão.
Urso polar apartado do gelo
Onde não posso viver (e não faço questão!),
Tanto me faz – onde será o pesadelo.
Não me ilude o chamado longínquo
Da materna minha língua, que convida… –
Não me importa, em qual língua
Serei mal-compreendida.
(O leitor de jornais, o ouvinte
De notícias, fuçador de mexericos…)
Ele – é do século vinte,
E eu – de todo século abdico!
Como um tronco que a esmo
Vê na rua em seu redor passar a gente,
Para mim é indiferente, dá no mesmo –
E, talvez, de tudo o mais indiferente
Seja a pátria onde se acha.
Cada marca dela em mim que se esconde
Vou despir, de cima a baixo:
Eis a alma, que nasceu – tanto faz onde.
E eu também, para a pátria, tanto faço, –
De frente para trás, de trás para frente,
Investigue se encontra dela traço,
Inspetor, em minha alma indiferente!
Estranha é cada casa, vazios todos os templos, –
E tudo – indiferente, e tudo – igual.
Mas basta que um arbusto eu contemple, –
E da sorva me lembre – da terra natal…
1934
* * *
Тоска по родине! Давно
Разоблаченная морока!
Мне совершенно все равно —
Где — совершенно одинокой
Быть, по каким камням домой
Брести с кошелкою базарной
В дом, и не знающий, что — мой,
Как госпиталь или казарма.
Мне все равно, каких среди
Лиц ощетиниваться пленным
Львом, из какой людской среды
Быть вытесненной — непременно —
В себя, в единоличье чувств.
Камчатским медведем без льдины
Где не ужиться (и не тщусь!),
Где унижаться — мне едино.
Не обольщусь и языком
Родным, его призывом млечным.
Мне безразлично, на каком
Непонимаемой быть встречным!
(Читателем, газетных тонн
Глотателем, доильцем сплетен…)
Двадцатого столетья — он,
А я — до всякого столетья!
Остолбеневши, как бревно,
Оставшееся от аллеи,
Мне все — равны, мне всё — равно;
И, может быть, всего равнее —
Роднее бывшее — всего.
Все признаки с меня, все меты,
Все даты — как рукой сняло:
Душа, родившаяся — где-то.
Так край меня не уберег
Мой, что и самый зоркий сыщик
Вдоль всей души, всей — поперек!
Родимого пятна не сыщет!
Всяк дом мне чужд, всяк храм мне пуст,
И всё — равно, и всё — едино.
Но если по дороге — куст
Встает, особенно — рябина …
1934
……………..~//~
Curtir isso:
Curtir Carregando...